Ser criança é coisa séria!

09:30

Ser linda pra ela é ter sentimentos verdadeiros e ser sincera. Não precisa ser perfeita, basta ser mulher. De verdade. Frágil e incontrolável. — Clarissa Corrêa

O tempo me assustou, chegou de mansinho e fez "bu!", eu me tremi toda pela surpresa e descobri que dormi no ponto. 

O anos que passaram não me ensinaram a ser alguém melhor, só fizeram com que eu não desistisse de tentar ser esse Alguém ai; sabe, aquele que todo mundo canta, dança e narra em aventuras mirabolantes que a vida não reproduz completamente. Pensei que fosse só comigo, mas vendo as vidas das pessoas pelas ruas, aquelas almas cansadas e quase apagadas, pude jurar que eu estava no meu melhor estado; essa famosa loucura com a qual convive intimamente o tempo inteirinho me fez negar certas verdades, não assumi o que via ou vivia, então acabei sendo colorida em um mundo devastado pelo preto e branco.

Gelei até meu último neurônio quando notei que as crianças estavam perdendo as cores, como pode? Logo elas, cheias de vida e detentoras de muitos giz de ceras... Se elas não estavam conseguindo guiar o mundo, quem seria eu mera mortal?

Foi ai que alguns grandes pensadores dormiram comigo e me clarearam as vistas. Quão tola fui! Quem disse que era adulta? Quem deu o atestado de óbito a minha criança? Ninguém. Eu nem ao menos aceitaria... Cegueta demais, não reparei que eu era uma criança olhando a vida, julgando os outros. 

Deixei minhas máscaras e fui desbravar essa selva de pedra. Machuquei-me um bocado de vezes, é verdade; mas mamãe não sabe, e papai não viu... Quem há de contar? Shiu!

Tive a certeza de que era diferente, quando em uma passarela qualquer da Santa Cecília, o aperto no peito foi certeiro, eu tinha me sensibilizado com alguém que estava pedindo ajuda, mesmo que simples (para voltar para casa de metro, sem dinheiro...); doeu porque eu vi essa pessoa sendo ignorada, doeu mais ainda porque eu não me via em condições de ajudar, quase morri ao notar que na verdade o que me faltava era coragem iniciativa. Oras, que criança medrosa. Onde está o meu "instinto" infantil de transformar a dor no belo, o dia cinzento no mais lindo arco íris em pleno asfalto? Será que o domesticaram? Vou procurá-lo e libertá-lo, pobre de nós.

Ainda sou diferente, não me encaixo, não me misturo. Sufoca muito mais fechar os olhos e imaginar que aquilo está certo e que tudo ficará bem caso ninguém perceba, do que simplesmente aceitar e viver como devia estar vivendo. Largo as amarras dos adultos e me jogos em diários sonhos; não é como se eu procurasse por permissão esse tempo todo.

Hey, conta para eles que eu não sou louca, não sou um monstro; eu só não sei viver de mentirinha. Ser criança é coisa séria, coisa que não se ensina.

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