E se esse for o meu adeus?

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E se esse for o meu adeus, você estaria lá?
Você ficaria até o final? Aguentaria ver as cortinas do palco descendo e levando consigo os míseros traços da minha vã existência? Eu já não estaria mais lá para você, mas por você.

Eu não poderia mais te abraçar apertado e dizer coisas idiotas que te arrancariam o riso fácil, eu não poderia mais mentir olhando nos seus olhos para não te fazer mais mal do que o mundo estava fazendo, eu não poderia mais fingir fragilidade para que você se sentisse útil... Eu não poderia mais, mas ainda assim se eu pudesse eu faria.

Eu estaria um passo a sua frente, não porque eu daria as costas à você, mas porque estando a um passo a frente, eu saberia o que estava por vir e estaria preparada por você. Eu não me esconderia atrás dos muros mal acabados que me afastaram de você durante os encontros saudosos... Não mais seguraria minhas palavras que te intimidariam ou deixariam sem graça. Eu amaria ver-te sem graça. Eu desejaria com todas as minhas forças que mais alguém o fizesse por mim quando eu não mais puder, para que seu riso não cesse, para que sua criança não suma... 

Quando eu for, não me siga... Você ainda tem coisas a resolver. Nunca deixamos nossos compromissos pendentes e sumimos, não é o nosso estilo. Ficamos combinados assim. Você impressiona dai, e eu aplaudo daqui mesmo.

Siga e um dia podemos nos reencontrar. Pode ser que você me encontre na janela de uma casa simples, no desenho de uma mochila infantil, nas notas de uma música acústica, no chacoalhar do brinquedo do seu neto, ou ainda na folha de uma árvore velha e com nódoas... Sorria para mim, pois eu estarei sorrindo para você, como me privei de fazer quando estive ao seu lado, não por maldade, mas por pura ingenuidade e timidez.

Não quero que me esqueça! Posso não ter medo da morte, mas ainda temo ser esquecida.
Se possível, me ame e perdoe, mas eu não poderei ficar com você até que certa noite chegue. Eu serei arrancada dos seus braços, quando você nem ao menos imagina que me tem neles. Eu nunca confesse, não é mesmo? Eu teria feito melhor se soubesse que um dia não poderia mais. Eu teria te tirado para dançar sem música em meio a um supermercado cheio e passaria a vergonha de ser feliz com você no meio da multidão cotidiana, porque é nas coisas simples da vida que você me levou consigo, que você me tirou para dançar primeiro.

Eu não pretendia te fazer sofrer, eu não valho a pena, sabe? Embora você vá tentar me convencer ao contrário até o nosso último "até logo"; eu nunca vali! Como posso ter tanta certeza disso? Pessoas que não valem tudo isso, normalmente encontram o que "tudo isso" significa, tem "tudo isso" na vida, assim como tive a chance de esbarrar em você. Foi por acidente, meio atrapalhado e sutil... 

Na hora certa já será tarde demais, e ai o que de mim se for, espero que em ti permaneça. Faça-me o favor e me leve contigo, em cada pedacinho do ser humano que você é, em cada fraqueza que sentir, em cada lágrima que derramar, que enfrente as minhas lutas como se fossem suas, me mostre pro mundo no brilho dos seus olhos quando alguém precisar... Não me vire as costas, e continue a caminhar, até que tenhas confiança em ti para voar; eu estarei do outro lado (seja lá onde isso implique estar) torcendo por você, esperando por você para podermos brincar.

E quando o nosso último adeus tiver passado, não se negue a olhar para trás, mas tampouco fique por lá, pois eu não estarei naquele tempo, estarei onde temos que estar. Eu estarei exatamente onde precisaria estar. Brincando no tempo e na existência que nunca discutimos a céu aberto.

Em meu ultimo ato eu deixarei surpresas para você, para caso não cumpra o combinado de sorrir atoa e rir pelo caminho. Saiba que eu cada surpresa terá um pouco de você, um pouco de mim, um pouco de vida.

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